Vivemos a platitude do dia-a-dia, mas apostamos na permanência, na eternidade. Acreditando ou não em deuses, buscamos um sentido para a vida, para nossa ação pessoal. Cada um de nós é filho, irmão, pai, contribuinte, aluno, professor, marido, consumidor, cidadão, elegível, eleitor etc. O feixe de papéis que representamos nos caracteriza como pessoa. Uma questão complexa é decidir se resta algo além de tais camadas de nosso ser, ou se nos limitamos a elas. Tal dúvida ontológica pode ser ilustrada por meio do recurso à horticultura.
Retirando uma a uma as pétalas de uma cebola, nada resta da mesma, ao final: uma cebola é o conjunto de suas pétalas. Numa alcachofra, no entanto, após saborearmos uma a uma suas pétalas, resta um fundo saboroso, que representa o que nela há de mais valioso. Toda ontologia pode ser resumida, portanto, a uma decisão fundamental: o que somos nós, além dos papéis sociais que representamos?
Em outras palavras, uma pessoa é como uma cebola ou como uma alcachofra?
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