Deixemos de lado o desvio aético das citações cruzadas, trocadas como gentilezas: ainda assim, costuma ser exagerado o número de citações em grande parte das pesquisas. Coligidas de modo sincrético, seu uso nem sempre é adequado e elas podem esconder a voz do pesquisador.
Ninguém melhor do que Calvino, em Seis propostas para o próximo milênio, caracterizou o papel das citações em um texto:
se o discorrer sobre um problema fosse como transportar pesos, muitos cavalos poderiam transportar mais do que um só cavalo; mas o discorrer é como o correr, e um só cavalo árabe há de correr mais do que cem cavalos frísios…
Citamos um autor quando consideramos que ele disse o que queríamos dizer de uma maneira tão ágil, tão adequada ao que pretendemos que não convém parafraseá-lo. Partilhamos o sentimento do autor e acolhemos suas palavras em nosso texto e as fazemos nossas. Não nos escondemos atrás delas, nem nos limitamos a ecoá-las, ou a produzir ecos de ecos: a voz do citado torna-se nossa voz.
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