Em As cosmicômicas, Calvino propõe com argúcia e ironia uma interessante cosmologia. O Universo seria fruto de um contínuo jogo em que um ser de nome impronunciável (Qfwfq) perscruta o futuro e aposta na novidade, na transformação, contra o acomodado (k)yK, o decano, que representa o passado, a inércia, a falta de imaginação. Na origem, ambos abdicam dos números inteiros, considerados muito complicados, e recorrem apenas aos números e e π, os mais “simples”, que representariam a variação e a constância, a transformação e a eqüidistância, respectivamente. A lógica da criação do mundo e da vida não teria por base cadeias de O e 1, tudo ou nada, ser ou não ser, mas seria binária em outro sentido, fundada em séries de pares retroações/ações, contrações gravitacionais e expansões/explosões nucleares.
Um dos aspectos mais instigantes de tal cosmologia é a caracterização do presente como uma bolha homogênea em que convivem harmoniosamente o passado e o futuro, a conservação e a transformação.
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