Poucas atitudes denunciam tão nitidamente a incivilidade quanto falar ordinariamente mais alto do que seria necessário, em cada contexto. Em casa ou em ambientes públicos, em conversa direta ou em telefones, a extrapolação dos limites físicos da interlocução é indício seguro de uma consciência pessoal pouco desenvolvida. O hábito de se dirigir especificamente a alguém impingindo a muitos o conteúdo de nossa fala revela um gosto sintomático pela afetação, pelo espetáculo sem autenticidade, tão característico na hipocrisia.
Em nossas ações mais incisivas, em situações sociais ou afetivas, a eficácia não está diretamente relacionada à intensidade da nossa voz; os gritos somente ocorrem excepcionalmente; freqüentemente, apenas sussurramos. Sem falar em casos extremos, em que o recurso ao silêncio é mais eloqüente do que o discurso mais candente.
No auge de sua maturidade, o poeta Ferreira Gullar falou e disse, Em alguma parte alguma:
Tenho que baixar a voz/Porque, se falo alto, não me escuto.
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