A vida é uma dádiva: não escolhemos o tempo, o espaço, a família, as circunstâncias, nem as cartas genéticas para jogar. Mas o caráter, a consciência pessoal resultam das múltiplas escolhas que fazemos em nossa jornada. Construímo-nos tanto pelo que escolhemos quanto pelo que deixamos de lado. Não se pode falar de personalidade ética sem livre arbítrio. É mínimo o mérito de alguém que nunca roubou porque nunca teve oportunidade de roubar.
Há, no entanto, escolhas e escolhas. A superfície da vida oferece continuamente escolhas veniais: a roupa que usamos, o tipo de perfume, a marca do automóvel, o time do coração e tantas levezas mais. Mas o que nos marca como pessoas são nossas escolhas cruciais: em que cremos ou não cremos, os valores pessoais que cultivamos, o que julgamos aceitável ou intolerável.
Às vezes, nos distraímos com as escolhas veniais e traímos nosso fundo pessoal insubornável (Ortega y Gasset), por ação ou omissão. As marcas resultantes no caráter costumam ser indeléveis.
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