Há um quadro de Magritte que representa a capacidade de extrapolar a partir de um contexto: o artista é capaz de ver um ovo e pintar uma ave.
Há um poema de Blake que nos fala de “ver o mundo em um grão de areia e todo o céu em uma flor selvagem, em ter o infinito na palma da mão e a eternidade em uma hora”. Também aqui, as capacidades de articulação micro/macro, de combinação análise/síntese são especialmente valorizadas.
Tanto a relação contexto/extrapolação quanto a capacidade de uma visão sintética, de uma cartografia simbólica do real, exigem, no entanto, os cuidados do tempero, ou de um grão de sal.
Uma lagartixa imóvel em um muro nos faz lembrar de Blake e Magritte. A imaginação pode nos levar do pequeno réptil ao enorme jacaré, tal como uma miniatura metálica nos faz pensar no automóvel real. Mas temer a lagartixa como se teme um jacaré não é virtude da imaginação; pode ser simples paranóia.
Falar em público e viajar de avião, às vezes, são lagartixas disfarçadas de jacarés.
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