Em A crítica da razão indolente, Boaventura de Sousa Santos esboça uma tríplice relação entre os mapas, a Poesia e o Direito.
Mapas são representações planas da realidade, que visam a uma orientação espacial dos usuários. Construídos a partir de uma escala e um sistema de projeção, distorcem controladamente a realidade, expressando, sempre, um ponto de vista.
A Poesia e o Direito são representações simbólicas da realidade com objetivos diametralmente opostos. As leis regulam a vida social. O mapeamento determinado por elas tem a pretensão de validade universal, para todos os cidadãos: todos são iguais perante as leis.
Já o mapeamento do mundo que a poesia provê é essencialmente distinto para cada ser humano. O poeta expressa uma visão pessoal de seu tema, traduzindo sentimentos em palavras. E um poema alimenta-se da peculiar emoção que desperta em cada leitor.
O par Direito/Poesia constitui, então, uma simples manifestação da complementaridade essencial entre a igualdade e a diferença.
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