A manchete é enfática: dificuldades em matemática são sintomas de uma doença – a discalculia. Como no caso da dislexia, síndrome análoga no aprendizado da língua, o rótulo é confortante, e parece auto-explicativo. Num e noutro caso, no entanto, são frequentes os diagnósticos abusivos, prevalecendo a ideia simplória de que nomear é entender, e classificar é explicar.
Tais doenças existem, assim como o alcoolismo e a cleptomania, mas um fio de navalha separa o desconforto da fraqueza da comodidade da doença. É muito mais provável a compaixão pelo doente do que a compreensão do leniente. Culpar os genes, a divindade ou o destino são vias óbvias demais para aliviar a responsabilidade de nossas escolhas conscientes.
Em Múltiplas escolhas, Lia Luft sublinha a importância de tais escolhas em nossa constituição. A ascensão dos pensamentos aos atos, dos atos aos hábitos, dos hábitos ao caráter, do caráter ao destino exige de nós permanente atenção. Culpar a doença é uma rima, não é uma solução.
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