É conhecida a máxima atribuída a Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas”. Também é notório o verso em que Tom Jobim saúda a beleza da mulher: “Olha, que coisa mais linda, mais cheia de graça,…” Se vivessem hoje, Jobim e Protágoras poderiam ser enquadrados como politicamente incorretos. O primeiro seria acusado de hybris, ao sugerir que o homem situa-se acima dos deuses; o segundo, de chamar uma mulher de “coisa”.
Em defesa do primeiro, registre-se que sua frase completa raramente é citada: “O homem é a medida de todas as coisas de uso”. Quanto ao segundo, em tempos de múltiplas cotas, compensatórias de putativas dívidas históricas, somente a total insanidade pode associar à inocência da canção uma conotação pecaminosa.
Com certa melancolia, lembramo-nos dos tempos em que as interjeições eram mais espontâneas. Epa! Perdão! “Melancolia” não é uma palavra aceitável. Em grego, melanos kholè quer dizer bílis negra. Seria, talvez, mais conveniente dizer: bílis afrodescendente…
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