Nas praias, mesmo quando disputamos um lugar ao sol, o horizonte sem limites traz à mente uma sensação de liberdade. Espremidos de um lado por uma ciranda de edifícios, resta-nos o outro. Soltamos a imaginação e sentimos a esfericidade da Terra. Um guarda-sol nos esconde do céu, mas desfrutamos de uma espécie de transcendência horizontal.
No campo, sobretudo à noite, a visão horizontal pode não ser tão generosa, mas o céu nos salva. Ao atingir seus limites naturais, o olhar se volta para as estrelas. O espaço sideral, que regula a passagem do tempo, também nos dá uma sensação de liberdade e conduz a uma espécie de transcendência vertical.
Nas grandes cidades sem praias, cujos céus também não favorecem as aberturas para o alto, como satisfazer a necessidade vital de extrapolar o imediatamente sensível, a realidade imediata? Uma aposta otimista: mergulhamos mais profundamente em nós mesmos e estreitamos as relações com os outros. Buscamos, assim, uma espécie de transcendência para dentro.
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