Nunca conheci quem se orgulhasse de ser “teórico”; todos se vangloriam de serem práticos em tudo. A quase-paráfrase de Fernando Pessoa pode soar engraçada, mas não passa de um contrassenso traduzido em senso comum. Kant dedicou-lhe especial atenção, em opúsculo do final do século XVIII. Fulmina a pretensão de verdade da frase “Talvez isso seja correto na teoria, mas, na prática, não funciona”, argumentando que, se algo for teoricamente bom, deve sê-lo também na prática. Quando isso não ocorre, há que se conferir a consistência na transposição; se ela se confirma, há que se questionar a efetiva correção da teoria.
“Teoria” é uma palavra de origem grega que quer dizer “visão”; trata-se da visão que leva à compreensão. Sem teoria, as ações práticas são cegas ou caóticas. Um circunstancial desvio na etimologia conduziu a teoria à mera ideia de contemplação, distanciando-se da ação concreta.
Na busca da consciência, no turbilhão do dia a dia, nada parece mais prático do que uma boa teoria.
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