Os laços que nos unem, os links que valorizamos, os papéis que representamos na grande rede social nos caracterizam como pessoas: com base neles, somos conhecidos ou reconhecidos. Como as cascas de uma cebola, eles nos constituem, dos mais superficiais aos mais profundos. Extrações sucessivas de tais camadas podem nos levar a lágrimas, ou, o que é pior, à sensação de que nada somos, além das cascas.
Outra alegoria, no entanto, pode representar de modo mais fecundo o modo de ser do ser humano: somos todos alcachofras.
De fato, se as pétalas da alcachofra são como os laços, os links, os papéis que representamos, após extrair cada uma delas, chegamos à parte mais substantiva e apreciada: o miolo da alcachofra. Assim, em cada ser humano, sob todas as camadas/instâncias sociais que ele representa reside o que Ortega y Gasset denominou de “o fundo insubornável da pessoa”. Potencialmente, em cada pessoa, sempre existe um miolo precioso, mesmo quando todos os laços, links ou papéis se esgotam.
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