Deu no jornal (FSP, 9/7/2016): o Presidente pede a empresários que priorizem formados no exterior. Em encontro promovido pela Confederação Nacional da Indústria, afirma que “os formados no exterior talvez venham bem formados com informações tecnológicas que auferiram no exterior”. Apesar de ser muito frequente certo elogio acrítico de ações de internacionalização no que tange às produções acadêmicas, é muito difícil imaginar um discurso menos equivocado ou mais imprudente, sobretudo na boca de uma autoridade como o Presidente. Qualquer resquício de consistência no argumento perde-se completamente no “talvez” da enunciação. Duas razões fundamentais evidenciam o disparate do presidente: o desemprego é um problema mundial, absolutamente “internacionalizado”; nem tudo o que vem do exterior tem mais valor, ou é preferível relativamente ao que aqui se produz. O possível e desejável valor da internacionalização apenas pode legitimamente resultar de um transbordamento do que aqui se produz, em razão de sua qualidade, para muito além de nossas fronteiras. O mesmo ocorre com aquilo que incorporamos da pesquisa realizada em instituições internacionais de referência, o que é cada vez mais possibilitado pelo acesso a redes informacionais, mesmo quando uma desejada viagem ao exterior não é factível. Ter como lema que tudo o que vem do exterior, seja da Bélgica ou de Portugal, da Alemanha ou da Guiné Bissau, é naturalmente melhor do que o que aqui se produz é apenas sintoma de um complexo de vira-latas, expressão de uma mediocridade que deve ser combatida tanto no nível do senso comum quando em açodados discursos presidenciais.

*********10/07/2016

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