É muito conhecido o texto de Hannah Arendt intitulado A crise na Educação. Quando citado, no entanto, um aspecto apenas sobreleva os demais: o registro da crise na ideia de autoridade. Apesar de fundamental, tal registro é apresentado juntamente com dois outros do mesmo porte, que podem passar despercebidos: a crise na Educação decorreria também, segundo Arendt, de certa subestimação do conteúdo disciplinar do que se ensina, em benefício de sedutoras metodologias ou tecnologias, e, além disso, no âmbito de cada disciplina, certo desprezo pela teoria, com um elogio acrítico do fazer prático. Naturalmente, os três aspectos referidos entrelaçam-se continuamente. A fonte mais legítima da autoridade do professor decorre de seu domínio do conteúdo disciplinar que leciona. Saber apenas o conteúdo não basta, mas não há como sustentar a autoridade de um professor que é indigente relativamente aos conteúdos. O encantamento dos alunos pela temática a ser ensinada depende de um conhecimento adequado por parte do professor. Um professor ou uma professora que ignora as ideias fundamentais da matemática não pode apresentar tais ideias de modo sedutor para os alunos. O conhecimento dos conteúdos é, decididamente, mais importante do que o de metodologias específicas. Quem tem um porque  ensinar certo tema sempre arruma um como  ensiná-lo, mas a recíproca não é verdadeira. É importante ser capaz de escolher a melhor metodologia, mas é secundário. É secundário no sentido de que vem em segundo lugar, após um conhecimento dos conteúdos a serem ensinados. E não há como conhecer os conteúdos de maneira crítica sem teoria. A palavra teoria significa, etimologicamente, visão, em grego. Trata-se da visão que leva à compreensão, fundamental para a ação consciente em qualquer assunto, em qualquer circunstância. Apenas por um desvio semântico, teoria passou a ser associada apenas à contemplação, sem a ação. Mas a teoria somente se completa na prefiguração da ação. Fugir da teoria é condenar-se a agir às cegas. Os três aspectos da crise  na Educação apontada pela Hannah Arendt merecem, portanto, o mesmo destaque.

**********22-07-2016

No comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *