As palavras gregas correspondentes a bio e zoo significam vida, mas enquanto a segunda se refere à vida do corpo, à vida em sentido animal, a primeira corresponde à vida humana, ao fazer com a palavra, que é condição de possibilidade da vida junto com os outros em sentido político. Ortega y Gasset expressou várias vezes seu desconforto com a palavra biologia, que, segundo ele, em seu uso corrente, estaria mais próxima do significado da zoologia. Para o pensador espanhol, o que chamamos de psicologia, de antropologia, de sociologia estaria mais próximo de uma biologia do que aquilo que chamamos ordinariamente de biologia. Tal fato me veio à lembrança ao considerar o significado das Olimpíadas. Simbolicamente, elas representam a busca da superação por meio do esporte, o ideal da perfectibilidade humana, na busca de recordes, o elogio do mérito, premiado com medalhas. Mas as Olimpíadas cuidam apenas do corpo físico, ou de nossa dimensão zoológica, animal. A moderna existência das paraolimpíadas apenas reforça a concentração das atenções no corpo físico. A despeito da beleza e da força do simbolismo e dos ideais olímpicos, não resisto a imaginar como seria uma olimpíada realmente biológica, em que o ser humano buscasse a perfectibilidade não apenas do corpo, mas também da alma, ou daquilo que somos além do corpo físico. Como seria uma olimpíada que valorizasse o mérito das pessoas pelo significado de suas ações do ponto de vista ético, na perspectiva dos valores humanos? Imaginar como seria isso é uma experiência de pensamento muito interessante.
**********SP 27-08-2016
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