A integridade é um valor maior, imprescindível para uma vida eticamente fundada, partilhando valores em regimes democráticos. Ela é que estabelece limites tanto para o exercício da autoridade quanto para o cultivo da tolerância. Mas ela necessita permanentemente do apoio de um valor mais singelo, ainda que igualmente importante: a civilidade. A integridade está para a ética assim como a civilidade está para a etiqueta. Refiro-me à etiqueta não como o respeito a formalidades extravagantes, mas sim à forma cerimoniosa de vivência e trato entre particulares. Assim compreendida, a etiqueta situa-se em algum ponto de equilíbrio entre a a intimidade e a grosseria. Mesmo em termos privados, os excessos de intimidade ou de grosseria não são bem recebidos. No terreno da política, a etiqueta é a civilidade. Pequenos valores cívicos são a generosidade, a gratidão, a confiança, o compromisso, a delicadeza; pequenos vícios são a crueldade, a misantropia, o esnobismo… A falta ou a presença de qualquer um deles não constitui um crime, nem uma virtude especial, mas dificulta a convivência social. Mesmo quando recheada de razões justas, a crueldade mina a integridade, tanto quanto o faz a misantropia, ou a permanente vontade de viver longe dos outros. E o esnobismo, ou o hábito de explicitar desnecessariamente pretensas desigualdades, pode envenenar a convivência. De modo geral, entre a integridade e a civilidade existe uma relação similar à existente entre a justiça e a prudência. Se a prudência pode ser associada, não aos grandes ideais de justiça, mas à justiça em ponto pequeno, ou à sabedoria revelada nas ações práticas do dia a dia, a civilidade representa uma integridade humilde e tolerante, em sintonia com a fragilidade da natureza humana.Um político pode não se eleger, a despeito de fundar suas ações em um quadro consistente de valores, se não atentar para a integração com os outros em ponto pequeno, ou à civilidade.
*********SP 27-09-2016
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