Um dos erros mais crassos em Estatística Básica é a interpretação de uma correlação entre grandezas variáveis como uma relação de causa e efeito. Todos os seres humanos (ou quase todos…) nascem com um nariz e dois olhos; existe uma correlação perfeita (ou quase…) entre o número de narizes dos sujeitos de uma população e o número de olhos dos referidos sujeitos. Apesar desse fato, ter um nariz não é a causa de se ter dois olhos, nem vice-versa, mas existem situações em que as coisas não parecem tão simples assim. A propósito disso, um experimento curioso foi realizado por Fisher, um renomado estatístico inglês, na primeira metade do século XX. Ele examinou o número de nascimentos ocorridos em um grande número de cidades inglesas, em determinado período de tempo, e o número de cegonhas existentes nas correspondentes cidades. Encontrou uma correlação altíssima, abrindo caminhos para incautos estabelecerem associações abstrusas, derivadas de narrativas fabulosas sobre o transporte de bebês por cegonhas. No caso, a amostra de Fisher incluía apenas grandes cidades, onde ocorrem muitos nascimentos, e que ostentavam, na época, muitas construções com grandes chaminés, recantos apreciados pelas cegonhas. Havia, portanto, uma causa comum para cada um dos efeitos apontados, mas certamente não havia qualquer relação entre eles. Modernamente, uma vacina contra causalidades indevidas tem sido o estudo das covariações entre as grandezas a serem correlacionadas. Simples assim: projetam-se experimentos para responder a pergunta “se uma das grandezas variar, o que ocorre com a outra?” Existe uma variação conjunta, uma interdependência, uma covariação? Se a resposta for sim, então estamos autorizados a escavar o terreno mais profundamente; se não, é preciso apreciar a ficção pelo prazer que ela nos traz, deixando a Estatística descansar em paz.
**********SP 09-10-2016
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