Ainda que a primeira acepção do termo “desemprego” seja “falta de trabalho”, por maiores que sejam os indicadores correspondentes, em país algum falta o que fazer. A crise no mundo do trabalho resulta do desencontro entre as atividades que fazemos com gosto e os pacotes de ocupações remuneradas que nos oferecem. O exercício contínuo de tais ocupações necessita de um mínimo de adesão voluntária, de partilha de objetivos. Para nos fazer crescer como seres humanos, o trabalho precisa ter significado, precisa ser meio para alcançar um fim humanamente defensável. No exercício do trabalho, quando o meio se transforma em fim, grassa a mediocridade. Acumular dinheiro não é um fim humanamente defensável, pode ser um meio para se buscar coisas maiores. Platão caracterizava o escravo como aquele não tinha metas pessoais, que vivia para realizar os projetos dos outros. Ter salário ou não é um pormenor. Atualmente, existem escravos muito bem remunerados, muitos dos quais criando estratagemas para enganar os pares, no âmbito do sistema financeiro internacional. Quando menos consciência das metas, mais fácil a dedicação aos meios, mais próxima se encontra a mediocridade. A criação de atividades remuneradas envolvendo tarefas significativas do ponto de vista social e pessoal é um desafio permanente para todos os governos. Sem isso, a médio prazo, abrem-se as portas para o tédio, o desamparo, o desespero ou coisa pior, quando a vida perde o sentido.

**********SP  23-12-2016

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