Quando se debate sobre a reforma do Ensino Médio, uma defesa intensa de disciplinas como Filosofia ou Sociiologia não costuma ser associada a uma igualmente vigorosa defesa da Gramática, que não parece desfrutar do mesmo prestígio ou despertar o mesmo encantamento. No entanto, nada parece mais revelador da civilidade de uma nação quanto o cuidado com que trata a língua materna, instrumento de comunicação e compreensão, mas sobretudo de expressão dos laços que nos unem a nossos irmãos nacionais. Até a Idade Média, a Gramática era uma das três disciplinas básicas dos currículos, juntamente com a Dialética (Lógica) e a Retórica. Tratar mal a Língua era indício de grosseria, tanto quanto o era o desrespeito aos outros. Hoje, políticos decretam que “houveram problemas”, outros pretendem que um trabalho seja “melhor feito”, ou que “o Brasil, tem jeito”. As regras gramaticais têm sua importância solenemente diminuída, como se o fato desrespeitá-las tivesse a ver apenas com a forma, sem afetar o conteúdo do que se diz. Mas, como bem disse Wittgenstein, “uma nuvem inteira de Filosofia se condensa em uma gotinha de Gramática”. Sem as categorias gramaticais, cujo vislumbre é de matriz aristotélica, o universo da linguagem torna-se uma selva impenetrável. A substância dos substantivos, as qualidades dos adjetivos, as ações inspiradas nos verbos, as emoções associadas às interjeições, a ideia de tempo decorrente de uma compreensão adequada dos tempos verbais, como a sutileza do mais-que-perfeito, são alguns exemplos simples que bem ilustram . a importância da Gramática, como uma espécie de “ética da língua”.

********SP  06-01-2017

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