1 – Na Escola Básica, a formação pessoal é a meta mais importante. A cidadania é o núcleo da pessoalidade; a partir dela constitui-se a formação pessoal. Iguais como cidadãos, somos diferentes como pessoas, e gostamos disso.
2 – As disciplinas escolares são meios para o desenvolvimento das competências pessoais. Nenhuma disciplina tem importância na Escola Básica senão quando vinculada às competências pessoais a que serve.
4 – A ideia de competência pressupõe o desejo: a inapetência é a ante-sala da incompetência. Mas não basta apenas desejar: é importante discernir o que tem valor e o que não tem, o que deve ser cultivado e o que deve ser combatido.
5 – A formação pessoal é a construção da consciência, que é uma vontade de segundo nível, é uma vontade de ter certas vontades e não outras. Tal construção realiza-se em um percurso da heteronomia à autonomia.
6 – Projetos são desejos com argumentos legítimos. Ter projetos é ter metas que são escolhidas em um cenário de valores. A principal característica da ideia de projeto é uma radical incompatibilidade com a coação: é possível alimentar desejos, cultivar valores, semear projetos, mas não se pode ter projetos pelos outros.
7 – O conhecimento é fundamental para a realização consciente de todos os projetos. É necessariamente disciplinar, disciplinado, mas não se pode esquecer de sua condição de meio para o desenvolvimento das competências pessoais.
8 –Três eixos de competências pessoais correspondem a três pares de competências a serem perseguidas:
– capacidade de expressão em diferentes linguagens e de compreensão de fenômenos em múltiplos contextos;
– capacidade de argumentação, de análise de informações, e de elaboração de sínteses para a tomada de decisões;
– capacidade de articulação entre os temas estudados na escola e os mais diversos contextos extra-escolares, mas também de extrapolação de dar asas à imaginação e extrapolar todos os contextos.
9 – Para construir as competências pessoais a partir do conhecimento disciplinar, é necessário ater-se às ideias fundamentais da disciplina que se ensina. Uma ideia é fundamental se satisfaz a três critérios decisivos:
– é passível de ter seu significado explicado na linguagem ordinária, não exigindo o discernimento do técnico ou do especialista;
– é estruturadora do conteúdo disciplinar que se ensina, não consistindo em um tema isolado e transitando por diversos conteúdos disciplinares;
– transborda as fronteiras disciplinares, facilitando a articulação entre as diversas disciplinas.
10 – Em geral, os alunos não se encontram naturalmente interessados pelas ideias fundamentais de cada disciplina; é preciso criar centros de interesse que funcionam como pontes entre os conteúdos escolares e os temas extra-escolares.
11 – A articulação das disciplinas em áreas é natural nas séries iniciais, e é imprescindível à medida que se avança nos níveis de escolaridade. Quanto mais fragmentado é o tema a ser ensinado, mais difícil é construir o significado e criar o interesse. Quatro grandes temas podem servir de base para a criação de centros de interesse: o mundo do trabalho, o universo da cultura (a arte incluída), o espaço das tecnologias e o próprio universo fantástico do conhecimento.
12 – A mediação do professor na criação de centros de interesse nos alunos é a função docente mais urgente, em qualquer nível de ensino. Sem ela, nem os mais os mais belos projetos educacionais chegam a florescer. O professor é sempre um mediador de conflitos de interesse, um cartógrafo de relevâncias, um contador de histórias fabulosas.
******SP 08-01-2017
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