Todo político é – ou deveria ser – um servidor público, ainda que nem todo servidor público seja um político em sentido estrito. Um funcionário público, em qualquer nível que trabalhe, é – ou deveria ser – um servidor público. Um servidor público não tem uma pessoa física definida como seu empregador: ele serve ao público de uma maneira ampla, o público é seu patrão. Trata-se de uma condição que exige vocação, exige doação, exige disponibilidade para servir à coletividade, para ter sempre no horizonte das ações o interesse coletivo, buscando encontrar espaço para realizações pessoais no cenário dos projetos com objetivos sociais mais amplos. Tanto no âmbito do serviço público quanto no do setor privado, o público é o destinatário das ações realizadas, mas o sentido de tais ações é diferente quando se situam nos limites dos interesses privados ou quando resultam dos projetos coletivos administrados pelo Estado. Tal sentido elevado de servidor público, no entanto, tem sido correntemente corrompido, quando se associam a tais servidores preocupações exclusivamente interesseiras com salários e sobretudo com estabilidade no emprego. Não são indevidas tais associações, mas sua generalização é absolutamente injusta. Sobretudo em situações de crise, como a que vivemos, com o desemprego assumindo proporções desconcertantes, a acomodação ou o desespero conduzem, de fato, uma parte substancial dos sem emprego a se inscrever em concursos públicos, seja lá qual for a ocupação correspondente, na ânsia pela satisfação de necessidades imediatas. Reiteramos, no entanto, que, se tal opção for desvinculada de um mínimo de vocação, ela corresponde a uma corrupção da ideia de servidor público. Se a falta de opções conduz uma fatia importante dos trabalhadores a se tornarem profissionais de concursos para o que der e vier, a falta de vocação de servir ao público fará com que tais desvios resultem em prejuízos psicológicos para os aderentes e na imagem dos verdadeiros servidores.
******SP 05-02-2017
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