É muito pequeno o papel desempenhado pelos conceitos na educação básica. Quase sempre trabalhamos no terreno das ideias gerais, construindo os significados por meio da diversidade de percepções que nos é apresentada em cada contexto pelos órgãos dos sentidos. Os múltiplos sentidos são pessoais, idiossincráticos; constituem o primeiro momento do conhecimento. Na multiplicidade de percepções a que conduzem, buscamos um terreno comum de sensações, ou o que têm em comum, o que apresentam de partilhável, que constitui justamente o significado daquilo que estudamos. Os significados, por sua vez, são traduzidos em palavras, quase sempre na antessala dos conceitos. Partilhamos o significado da vida, do tempo, do ser humano, da educação, mas nem sempre somos capazes de explicitar os conceitos correspondentes. Exploramos pequenas generalizações, menos ambiciosas que as conceituais, e seguimos tecendo relações, desenvolvendo esquemas de apreensão/compreensão, que se iniciam com os sensório-motores, tão bem esquadrinhados por Piaget, e se estendem pelos esquemas simbólicos em geral, que se iniciam com as palavras e se prolongam nas linguagens, oral e escrita, e mais tarde, nas ideologias, nas religiões, entre outros grandes esquemas. Esquemas são menos elaborados que os conceitos, não têm o mesmo nível de generalização. Ocupam um espaço que pode ser caracterizado como preconceitual, anterior ao rigor conceitual. Nesse terreno de ideias gerais, sem a pretensão cartesiana de clareza e distinção, passamos a maior parte da nossa vida escolar. Mas é preciso muito cuidado: não se pode confundir a riqueza do nível preconceitual com a sempre indesejável arrogância do preconceituoso. É justamente quando um singelo insight de um esquema preconceitual assume ares de conceito estabelecido que o preconceito se estabelece, como uma erva daninha.

*******SP 20-03-2017

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