Existem pares de palavras inseparáveis, verdadeiras irmãs siamesas. Autoridade e Responsabilidade constituem um desses pares. É impossível, tanto do ponto de vista lógico quanto em sentido etimológico, exercer uma autoridade sem assumir responsabilidades. Quem não se dispõe a assumir responsabilidades pelas ações de outros jamais poderá exercer qualquer tipo de autoridade. Em alguns âmbitos, falar sobre autoridade produz urticárias… É possível driblar tal reação anômala falando-se sobre as responsabilidades inerentes. Tal como a autoridade, a responsabilidade tem limites. bum âmbito interno a cada um de nós em que somos a maior autoridade sobre nós mesmos, assumindo todas as responsabilidades decorrentes. Um exercício pleno de uma vivência ética somente se prefigura com a ideia de corresponsabilidade. Outro par de palavras similar é Ordem/Organização. Poucos discordariam de que precisamos de organização para uma atividade consciente, mas a reação à ideia de ordem é, às vezes, inconsciente. A associação com coação parece inevitável e parece indesejável. Mas a vida pressupõe organização. Classificações rígidas de pessoas podem constituir fonte de violência, do pior tipo de violência, que é a que se dá por meio da palavra. Mas sem uma rede de esquemas classificatórios, muito aquém de um referencial conceitual, as ações não se realizam. E toda classificação é o germe de uma equivalência, de uma ordenação. Um terceiro par igualmente siamês é a Dádiva e o Laço com os outros. A dádiva muitas vezes é associada ao discurso religioso, ou a atividades filantrópicas, mas não vivemos bem sem ela nas mínimas ações do dia a dia. A doação – da atenção, de um sorriso, da vez no trânsito… – as pequenas gentilezas compõem a ideia de civilidade, que é condição de possibilidade de uma vida íntegra, inteira e integrada com os outros. A dádiva sempre é uma expressão da busca do laço com o outro. Não fazemos contabilidade de dádivas: quem dá um presente busca um laço, este é seu único interesse. Não vivemos em sentido humano sem estabelecer múltiplos laços com os outros. A aparência natural e a maior aceitabilidade do laço, portanto, podem servir de mote para a busca de uma vida mais dadivosa. A cultura japonesa dá uma ênfase especial ao fato de que, ao nascer, recebemos a vida como uma dádiva, a maior de todas as dádivas. Viver seria a oportunidade para retribuirmos tal presente, e uma atitude dadivosa na relação com os outros, concretizada na busca de laços afetivos, seria o caminho para isso.
*********SP 06-04-2017
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