Mais do que um instrumento para a comunicação, a Língua Materna é elemento constitutivo da nacionalidade. Desde o primeiro currículo na história do pensamento ocidental, a Gramática se fez presente como uma das três vias para a construção do conhecimento, juntamente com a Lógica e a Retórica: maltratá-la era similar a tratar mal outra pessoa, era indício de incivilidade, ou de insuficiência na formação como cidadão. De modo análogo, a Matemática nos oferece um repertório de instrumentos técnicos para a realização de cálculos, mas, mais do que isso, ela desempenha nos currículos a função complementar em relação à Língua Materna na construção da cidadania. O alfabeto e os números constituem os dois sistemas básicos de representação da realidade, duas das formas mais primordiais de expressão pessoal e de compreensão do mundo que nos cerca. Explicitar alguns dos modos por meio dos quais a Língua Materna e a Matemática continuamente interagem e colaboram, é uma tarefa a ser periodicamente renovada, diante de tanto fascínio pelos fazeres práticos e utilitários. Para compreender o papel maior a ser desempenhado nos currículos pelas disciplinas citadas, é suficiente observarmos as ações mais elementares de uma criança nos primeiros mil dias de vida, aprendendo sobre letras e números sem distinções nítidas entre as disciplinas escolares correspondentes (a Língua e a Matemática); atentarmos para o imprescindível apoio da oralidade, emprestada da Língua, para a aprendizagem da escrita matemática; registrarmos a colaboração de ambas as disciplinas no desenvolvimento do raciocínio lógico; e esta lista certamente poderia ser alongada. Uma colaboração especialmente relevante entre tais disciplinas na formação da cidadania é a evidenciada pela análise do papel da Matemática na formação pessoal em valores, tendo por base a exploração do paralelismo entre as funções curriculares dos Contos de Fadas e do pensamento binário em Matemática.
********SP 04-06-2017
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