Na produção do conhecimento, temos muito mais a aprender alegoricamente com as abelhas do que com as formigas ou as aranhas. A razão é simples de explicar. As formigas operam como operários lavoisierianos, que nada criam, tudo transformam, combinando o já existente fora de si, deslocando-se e transportando coisas continuamente de um lado para outro. As aranhas, por sua vez, operam como se fossem deuses, construindo suas teias a partir de elementos materiais que produzem a partir do interior de si mesmas. O modo empirista de produzir das formigas opõe-se diretamente ao idealismo dos aracnídeos, que tiram o mundo de dentro de si. As abelhas representam uma síntese notável entre as duas perspectivas anteriormente representadas. Por um lado, deslocam o tempo todo elementos de um lado para outro, transportando pólen entre as plantas. Por outro lado, utilizam parte do que transportam, produzindo o saboroso mel. Do ponto de vista do modo como concebemos o conhecimento, ou seja, de nossa epistemologia, situamo-nos entre as operárias formigas, trabalhando/lecionando sem parar, e a ambição dos pesquisadores científicos, sempre buscando a produção do mel/ciência. Equilibrar-se entre tais extremos é o caminho que se nos oferece: sejamos, pois, abelhudos. É muito importante destacar na alegoria referida a enorme importância do trabalho de formigas realizado pelas abelhas, que é a polinização. Como se sabe, os grãos de pólen precisam ser deslocados dos elementos masculinos das plantas para os correspondentes elementos femininos, para possibilitar o ciclo da reprodução. Exceção feita a alguns alimentos como o trigo, o arroz ou o milho, que são polinizados pelo vento, quase todos os outros dependem das abelhas para a polinização. As abelhas não são os únicos polinizadores que existem, mas respondem por aproximadamente 90% da polinização animal. Que responsabilidade! Algo similar se dá na produção do conhecimento. Não é somente a produção do mel/ciência que importa: mesmo sem o charme e o glamour das criações/inovações, a atividade científica dos docentes é polinizadora por excelência…
*******SP 10-06-2017
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