Vivemos em um mundo de coisas, que se multiplicam e se amontoam, mas Schopenhauer é incisivo: não existem objetos sem sujeitos, o mundo consiste em representações dos sujeitos, na objetificação e significação de nossas vontades. Em sintonia com Berkeley, o filósofo pretende que ser é ser percebido; tudo o que existe é resultado das representações de nossas percepções. As coisas são representadas por signos, que podem ter o caráter icônico, mimetizando o objeto representado, ou o caráter indiciário, como o que recorre à associação entre o todo e a parte representada, ou o caráter simbólico, em que a associação entre o representante e o representado é convencional e relativamente livre. As linguagens, como sistemas de signos, são ferramentas ou meta ferramentas para a representação, condição de possibilidade da ação comum, da comunicação. Representamos continuamente, e a vida humana alimenta-se das representações que produzimos, resultantes de nossa vontade de viver. Há cerca de duzentos anos, Schopenhauer nos chamou a atenção para tudo isso, em um livro seminal, escrito quando o filósofo tinha apenas 30 anos: O mundo como vontade e como representação. A língua nossa de cada dia é o mais fundamental de nossos sistemas de representação da realidade, caracterizando-se como um instrumento de humanização por excelência. Fazendo coro com Heidegger, Schopenhauer apresenta o ser humano como um ser da linguagem, que se alimenta continuamente das representações que prefigura e elabora. Uma oitava acima, na tessitura da vida, encontra-se uma atividade de representação de outro tipo, mas igualmente constitutiva do modo de ser do ser humano. Não se trata mais da representação de coisas por signos, para viabilizar a comunicação entre as pessoas, nem da interpretação de signos, para bem entender as pessoas, mas sim do recurso a pessoas para representar pessoas, em situações vitais, como a que ocorre nos processos políticos inerentes à vida em sociedade. A organização social não mais se pode fundar na democracia direta, que teve lugar por poucas décadas, em espaços geográficos restritos, envolvendo populações que não ultrapassavam alguns poucos milhares de pessoas. O caminho para a democracia representativa traz à lume uma necessária sistemática para a escolha de representantes de grandes contingentes de representados. Trata-se de uma ampliação expressiva e certamente não trivial na ideia de representação. Em que sentido os políticos que ocupam os espaços representativos do poder legislativo ou do executivo efetivamente nos representam? Qual o significado esperado de tal representação? Eis aí um tema para uma necessária reflexão.

********14-07-2017

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