A eclosão da violência sempre está associada à falência da palavra; combater a violência somente pode se dar por meio da recuperação da confiança na possibilidade de um acordo por meio de um discurso racional. Em sintonia com tal fato, após mais de 50 anos de conflitos  armados, que deixaram mais de 218 mil mortos e mais de 6,4 milhões de desalojados, as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia entregaram o último lote de 8 mil fuzis ao governo colombiano. Sem abdicar de seus objetivos básicos no terreno das ideias, os ex-guerrilheiros estão deslocando o palco de suas lutas dos campos de batalha para o terreno das palavras. Constituíram um partido político e vão continuar a travar a luta pelos ideais buscando no parlamento a força do convencimento. O partido das FARC, sigla agora renomeada para Forças Alternativas Revolucionárias da Colômbia, poderá ser especialmente aguerrido, mas o recurso às armas não mais se vislumbra no horizonte. Batalhas alegóricas certamente serão travadas, mas o sangue ferverá dentro das veias, não mais fora delas. Trata-se de uma vitória importante da fé em uma racionalidade mínima na política, que rendeu ao presidente Juan Manuel Santos, com muita justiça, o Prêmio Nobel da Paz de 2016.   O fato mais notável, no entanto, para um aprendizado coletivo sobre o modus operandi das democracias, é a derrota da primeira versão do acordo cuidadosamente arquitetado pelo pelo laureado presidente, em plebiscito realizado com o povo colombiano. Sem esmorecer, sem recorrer a atalhos convenientes para cômodas desilusões, sem conformar-se com o que seria a voz do povo, o presidente persistiu e concluiu o acordo, que agora atinge seu último estágio. O exemplo que vem da Colômbia é uma lufada de ar fresco em um mundo poluído por trumps alucinados, brexits egocêntricos, microns criadores de cargos para a primeira dama, temerários articuladores de bandidos, e outros que tais.Agora, é fé nas FARC…

*******SP 16-08-2017

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