Já vai bem longe o tempo em que a vida profissional podia ser caracterizada por quatro fases nítidas: curso de formação, formatura/ingresso no mundo do trabalho, progressão na carreira e aposentadoria. Atualmente, em todas as áreas de atuação, toda formação é apenas uma formação inicial, um profissional nunca se sente “formado”, as carreiras nem sempre constituem hierarquias fixas, incorporando cada vez mais certo espraiamento horizontal que beira o nomadismo, e as aposentadorias estão se transformando em mudanças no tipo de atividade que nos atrai: aposentamo-nos de certas tarefas para realizar outras, muitas vezes com o mesmo entusiasmo do principiante. Quatro palavras podem servir de base para caracterizar a formação profissional hoje: Permanente, Ubíqua, Simbiótica e Híbrida. De fato, a ideia mais geral associada à formação profissional hoje é a de que ela é permanente, estendendo-se ao longo de nossa vida. Aprendemos continuamente ao longo do tempo, como se estivéssemos andando de bicicleta: parar de pedalar é desistir da viagem. Complementarmente em relação a tal perspectiva de extensão temporal, aprendemos onde quer que estejamos, construímos ou ampliamos significações de modo ubíquo, em todos os espaços de convivência. A escola continua a ser um espaço do conhecimento, mas nunca o foi de modo exclusivo, e cada vez tem peso menos determinante como lugar de formação profissional. Uma terceira marca da formação profissional hoje é seu caráter simbiótico no que se refere às relações entre a especialidade e o generalismo. A formação de especialistas é fundamental, mas a noção de especialidade se transformou. O especialista ironizado por Chaplin no filme Tempos Modernos não mais subsiste: as máquinas o estão substituindo. Mas isso não significa que estamos interessados em formar apenas generalistas: o especialista hoje é um consultor, é aquele que dispõe de uma competência específica em certo conteúdo, mas que consegue mobilizar tal conteúdo no sentido de fazer funcionar bem um sistema mais amplo, do qual sua especialidade participa. Um especialista hoje é alguém que se interessa por pontos/pixels que constituem uma foto, mas que compreende o significado da imagem representada, e, simbioticamente, alimenta seu interesse pelos pixels a partir da totalidade da imagem, e vice-versa. E finalmente, diante de um cenário em que a ideia de uma formação à distância tende a se generalizar, um profissional hoje compreende mais do que nunca que uma formação inteiramente presencial é um desperdício de competências, de formadores e de formandos, mas uma formação exclusivamente à distância física é uma perigosa quimera. Nem tudo o que aprendemos pressupõe estarmos diante de um professor, mas uma formação humana sempre exigirá um sistema de proximidade entre educadores e educandos: tudo o que os recursos tecnológicos nos oferecem é simplesmente modos alternativos de nos aproximarmos uns dos outros. O hibridismo entre a formação presencial e a formação à distância é, enfim, o que deve prevalecer: a escolha do mix pode variar, em cada caso concreto, mas os dois ingredientes são absolutamente fundamentais.

*******SP  30-08-2017

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