É um fato que podemos aprender com nossos erros, mas daí a se achar que é desejável errar vai uma grande distância. Em qualquer âmbito, o erro é uma contingência eventualmente fortuita, não é uma necessidade a ser satisfeita. Ter o erro como propósito beira a insanidade, e persistir no erro é pura e simplesmente tolice. Poucos entenderam o significado do erro de maneira tão consistente quanto Bacon, em sua visão empirista da realidade. É dele o aforismo/pérola seguinte: “A verdade nasce do erro mais facilmente que da confusão”. De fato, não podemos ter medo de errar, evitando correr riscos e, em razão disso, permanecer na confusão. Na vida cotidiana, lançamo-nos permanentemente em busca de nossos objetivos, mas não vivemos apenas de projetos bem sucedidos. Um projeto condenado ao sucesso não é verdadeiramente um projeto, mas sim um programa de ação para autômatos. Similarmente, um projeto condenado ao fracasso é um despautério. Aprendemos mesmo quando falhamos em nossas apostas; avançamos mesmo quando concluímos o oposto do que projetamos. O risco de um projeto dar errado é constitutivo de sua natureza criativa: sem a possibilidade do erro não existiria espaço para criação. Quando alongamos os prazos vitais, conscientizamo-nos da inevitabilidade do erro para todos os seres humanos normais. Entretanto, ser consciente e tolerante com tal circunstância não pode conduzir ao desejo do erro, como se ele fosse condição de possibilidade de avanço do conhecimento, em qualquer contexto. Do fato de que aprendemos com nossos erros não podemos concluir, senão por uma tortura da lógica, que quanto mais erramos, mais aprendemos.
******SP 26-09-2017
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