1# Ter a felicidade como meta é quase uma garantia de a não alcançar; ela não é um ponto de chegada, é o percurso até ele; não é um particípio, mas sim um gerúndio; é um faciendum, não é um factum.
2# A família e os amigos são importantes para a felicidade, mas constituem um espaço de doação, de cultivo de laços, de respeito mútuo e de mútuas responsabilidades; sem isso podem se transformar em múltiplas fontes de infelicidade.
3# Ser feliz é vislumbrar sua vocação pessoal e ir ao encontro dela; é assumir a responsabilidade pela construção dos meios para que ela se realize; é compreender que ela não representa um caminho único, mas um espectro de possibilidades.
4# Ser feliz é alimentar projetos pessoais, é ter propósitos na vida, tanto no que se refere às ações imediatas quanto na prefiguração do futuro, mas também é sentir-se parte de algo maior do que nossos mais caros projetos pessoais, é encontrar espaços de companheirismo, de colaboração em construções coletivas.
5# A felicidade nasce da ação semeada pela contemplação, pelo fazer articulado com a palavra, pela reflexão sobre as razões para a permanência ou para a mudança de situações do statu quo; pela consciência na ação que conserva, na ação que transforma, na ação que não se conforma.
6# A felicidade nasce do equilíbrio na capacidade de sentir em si as dores do mundo, de assumir as responsabilidades inerentes a tal sentimento, sem sucumbir a tentações de desânimo ou desilusões consoladoras, que podem aliviar consciências locais, mas sempre constituirão luxos de minorias.
7# A felicidade sempre pressuporá um espaço de ações aberto a escolhas pessoais, liberto dos constrangimentos tanto da norma legal quanto dos algoritmos: no terreno da ética, é o espaço do livre arbítrio; no terreno da arte, a abertura para a apreciação, para a autoria, para a criação.
8# Ser feliz é compreender que recebemos, ao nascer, a vida como uma dádiva, qualquer que tenha sido a circunstância em que isso tenha ocorrido; que o prazer que sentimos ao dar presentes, ao buscar os laços com os outros decorre da alegria de poder agradecer, cotidianamente, um pouquinho que seja, o mais precioso dos bens.
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