SUMÁRIO
1 – Sobre a FÉ
2 – Sobre a ESPERANÇA
3 – Sobre a CARIDADE
4 – Sobre o AMOR
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1 – Sobre a FÉ
Diz-se que a Fé move montanhas; mesmo parados, no entanto, ela nos mantém em pé. Toda ação a pressupõe. Discernimos o sentido local, mediato ou imediato, de nosso gesto; o sentido último somente advém da Fé. A razão de estarmos vivos, a crença em que nossa vida pessoal faz diferença, ninguém pode nos atestar de fora, é fruto de nossa Fé. Quando a perdemos, o mundo lá fora pode continuar exatamente como antes, mas desaba dentro de nós. O matemático em seus formalismos confia nos axiomas e extrai deles todas as consequências: se p, então q. Se duvida de um dogma/axioma, trata de substituí-lo, ou o sistema entra em crise. As religiões alimentam-se da Fé, mas a Fé religiosa é apenas um afluente do rio caudaloso que é a vida. Em sua Utopia, Thomas More é assertivo: quem não tem qualquer crença não é um ser humano. Aquilo em que cremos, no entanto, é de cunho pessoal: não existem igrejas em Utopia.
É apenas a Fé que nos faz, em meio à maior desdita, dizer da vida: é bonita, é bonita, é bonita.
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2 – Sobre a ESPERANÇA
A Esperança decorre da Fé; a recíproca não é verdadeira. Não se resume à espera, pressupõe envolvimento, ação tácita, atuação sutil. A Esperança é um misto de coragem e temperança. Seu oposto é o desespero, ou o desequilíbrio entre tais polos, o que conduz ao desatino ou ao desamparo. Em ambos os casos, predominam a desilusão, a descrença no sentido da existência, a inapetência para o jogo da vida. Temos Esperança porque alimentamos a Fé no sentido. Não vivemos de Esperança, mas não vivemos sem ela, que é condição de possibilidade de qualquer projeto. Projetos condenados ao sucesso não são projetos: o risco sempre está presente. Na labuta diária, fazemos a nossa parte e torcemos ou rezamos: avivamos a esperança. Perder ou ganhar partidas são contingências da vida. Perder a Esperança, no entanto, é abrir uma fenda por onde se esvai a Fé, e com ela, a sentido último de nossas ações. Diz-se que a Esperança é a última que morre justamente porque, sem ela, não existe vida em sentido humano.
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3 – Sobre a CARIDADE
Cuidar do outro, dar-lhe carinho, eis o sentido da caridade. A fundamental busca da ligação com os outros vai muito além dos limites de qualquer religião. Em sentido humano, não estamos vivos nem nos constituímos como pessoas sem os laços com os outros. Em tal sentido, o motor da ação humana é a doação, irmã siamesa da Caridade. Doamos/doamo-nos para criar laços. Os laços que estabelecemos com os outros são determinantes de nossa identidade. Aos familiares, reunimos os de amizade, os de parceria em variados âmbitos, os de solidariedade com as vítimas do que consideramos injusto, os de fraternidade com a totalidade do gênero humano. A Caridade não cabe dentro dos limites do mercado. A compra ou a venda de carinho é uma corrupção da ideia de caridade, uma aberração. Em nenhum lugar a máxima latina parece mais pertinente: a corrupção do ótimo é o péssimo. Dar volumosas esmolas pode não constituir um ato caridoso tanto quanto o é a cumplicidade de um olhar fraterno, afetuoso, compreensivo.
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4 – Sobre o AMOR
A máxima de J. L. Borges é definitiva: Só podemos dar o amor, do qual todas as outras coisas são símbolos. Os laços que nos constituem como pessoas pressupõem o trio dar/receber/retribuir. É necessário um Tu, um outro a quem nos dedicamos. O amor ao próximo, como a si mesmo, traduz a imanência dessa articulação fundamental entre o Eu e o Tu. Amar o mundo é a condição de possibilidade de uma vida ativa, diz Hannah Arendt. A construção de uma identidade pessoal conduz à busca de um centro de gravidade em nossa relação com o mundo, um Tu pessoal que preenche os vãos de nossas vidas, do DNA aos mais caros projetos. Não existe vida em sentido pleno sem tal centro, que costumamos chamar de Amor. Amar é encontrar o que nos alenta, é alimentar uma comunhão total e vital. É entregar-se ao que nos completa: uma pessoa, uma causa, uma tarefa, um princípio. Como uma semente que ninguém plantou, num olhar que ninguém previu, de repente, o Amor surge: defini-lo é cortar o ramo de onde a flor pende.
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