Na vida cotidiana, quando nada nos acontece, o tempo parece não passar; quando os eventos se sucedem, e nos envolvemos multiplamente, o tempo parece voar. De fato, há o tempo dos relógios, simples de se medir, e há o tempo interno, subjetivo, que cada um de nós vivencia. Em latim, o tempo dos relógios é o tempus, que flui uniformemente; e há o tempo que parece parar ou fluir mais rapidamente, dependendo do que nos afeta, que é o aevus, de onde se origina a palavra evento. Em grego, chronos é o tempo dos relógios, enquanto kairós é o tempo dos eventos, dos deuses, da vida que resiste à ideia de medida.

Uma experiência para vivenciar tal dualidade na ideia de tempo é a leitura de Ulisses, de James Joyce. Nela o tema é a vida humana e a trama representa alegoricamente a Odisseia, de Homero. Do ponto de vista do chronos, tudo se passa em apenas um dia na vida de Leopold Bloom; do ponto de vista do aevus, a obra parece nunca ter fim, ao expressar tão fielmente a complexidade da vida humana.

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