Descartes já nos alertara: o bom senso é o atributo mais bem partilhado do mundo; ninguém acha que precisa de mais do que já tem. No terreno das ideias, no entanto, o bom senso pode conduzir a derrapagens conceituais.
É o que ocorre quando se transferem qualidades ou defeitos do orador para os argumentos em defesa das ideias que apresenta. O deslizamento é sutil: se a pessoa argumenta mal, então a causa que defende não presta. Em latim, isto era chamado de Argumento Ad Hominem, uma situação em que os argumentos são deixados de lado e o argumentador é fuzilado…
Naturalmente, tal procedimento é logicamente insustentável. Em um debate, as ideias é que estão em questão, e não a eventual simpatia ou os defeitos do orador. A esse respeito, Kafka foi cirúrgico ao afirmar, com fina ironia: A maneira mais pérfida de se combater uma causa é defendê-la com um péssimo argumento. Simetricamente, poder-se-ia dizer: A maneira mais cínica de defender uma causa é combatê-la com um péssimo argumento.
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