É curiosa a relação que os homens estabelecem com a divindade, quando torcem pelo seu time favorito: agem como se não houvesse tema mais relevante com o que Deus deveria se preocupar. Loyola captou bem a lógica de tal síndrome ao escrever: “Ora como se tudo o que acontece dependesse apenas de Deus; mas age como se tudo o que ocorre dependesse unicamente de ti”.
Na distribuição de responsabilidades pelo que ocorre entre Deus e os homens, dois casos são especialmente reveladores: a produção matemática e a criação poética.
Diante da beleza das relações entre os universos numéricos, com suas ampliações sucessivas, dos naturais aos inteiros, aos racionais, aos irracionais, aos reais, aos complexos, aos transfinitos, o matemático Kronecker decretou: “Deus criou os números naturais; todo o resto é trabalho dos matemáticos.”
Uma situação similar, particularmente reveladora, se dá na poesia. Foi Bandeira quem reconheceu ou decretou: “Deus nos dá o primeiro verso: todo o mais é criação do poeta”.
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