Notas sobre a ideia de CURRÍCULO

                                                        SUMÁRIO 

 

  1. Currículos na Cultura Ocidental: em busca de uma Retrotopia

    

  1. Currículos e Ideias Fundamentais: simbiose Disciplinas/Competências, Projetos/Trajetos

 

  • Currículos: Os Tempos e os Espaços numa

Educação Integral

 

  1. Currículos: A Educação e a tríplice responsabilidade Escola/Família/Sociedade

 

  1. Currículos no Ocidente e no Oriente:

                 Uma aproximação por meio de Da Vinci                                                               

 

 

 

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(O pré-texto a seguir, na forma de bullets, pode servir de base para a elaboração de um texto efetivo que expresse o pensamento do Grupo sobre a ideia de Currículo.)

 

 

  1. ­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­Currículos na Cultura Ocidental:

          em busca de uma Retrotopia.

          ENSAIO

  1. Na construção do Conhecimento, o ponto de partida é a realidade, mas é necessário recorrer a sistemas de representação para se ter acesso a ela.
  2. Currículos são como mapas que representam um elenco de vias de acesso ao Conhecimento; as Disciplinas são as vias de acesso.
  3. No senso comum, os “Três Rs” (LeR, EscreveR e ContaR) /constituíram uma visão sintética de tal representação.
  4. Na Cultura Ocidental, o primeiro currículo de que se tem registro é o Trivium, constituído pelas Disciplinas Gramática, Lógica e Retórica. Era claro, então, que essas três vias de acesso ao conhecimento não eram fins em si mesmas, mas sim meios de formação pessoal.
  5. Após o Trivium, havia mais quatro Disciplinas, que constituíam o Quadrivium. Tratavam de Números e de Formas: a Aritmética era o estudo dos Números em repouso, a Música era associada aos Números em movimento; a Geometria era o estudo das Formas em repouso, enquanto a Astronomia tratava das Formas em movimento.
  6. Apesar da enorme relevância do modo de pensar a construção do conhecimento constituído por pensadores como Leonardo Da Vinci, que, em vez dos 3Rs ocidentais, optava pela tríade Ver, Imaginar, Desenhar, de modo geral, até o final da Idade Média, as vias de acesso ao conhecimento eram as sete disciplinas do Trivium e do Quadrivium.
  7.  Com o advento da Ciência Moderna, ocorreu paulatinamente uma proliferação de disciplinas, presentes nos currículos da escola básica atual: Física, Matemática, História, Geografia, Biologia, Química, Linguagens, Artes, Educação Física, entre outras…
  8. Um efeito danoso de tal fragmentação disciplinar é o fato de que ela dissolve os significados, situando-se na origem da perda do interesse nos conteúdos disciplinares por parte dos alunos.
  9. Aí se inserem, frequentemente, iniciativas para vacinar contra a fragmentação, no caso das séries iniciais da Educação Básica, ou remediar seus danos, quando o mal já se instalou, como, por exemplo, no currículo do Ensino Médio.
  10. Os discursos da Multidisciplinaridade, da Interdisciplinaridade, da transdisciplinaridade e da Intradisciplinaridade tentam, há décadas, promover a aproximação entre as diversas disciplinas, sobretudo a partir da criação de Centros de Interesse, enraizados nos contextos reais.
  11. Um recurso especialmente relevante para uma aproximação e uma integração disciplinar é a organização dos currículos por áreas do conhecimento que congregam disciplinas com objetos afins. São diversas as possíveis escolhas disciplinares, na composição das áreas.
  12. Outra vertente de iniciativas diz respeito à restauração do discernimento entre as Ideias Fundamentais dos Conteúdos Disciplinares estudados, que são necessárias para todos os alunos, e os conteúdos que constituem Aprofundamentos, disponíveis seletivamente para diferentes grupos de alunos.
  13. De modo geral, as Disciplinas viabilizam a construção do conhecimento; literal e figuradamente, sem disciplina não se chega ao conhecimento. E os Currículos são como Mapas que constituem uma cartografia simbólica dos conteúdos, ou das vias de acesso ao conhecimento.
  14. Os mapeamentos dos conteúdos disciplinares dependem essencialmente da capacidade escolher escalas adequadas para o tratamento dos conteúdos disciplinares; errar para menos é subestimar os alunos, ao mesmo tempo que um excesso de pormenores pode inviabilizar o ensino.
  15. Sem tergiversar, qualquer conteúdo pode ser apresentado aos alunos de modo compreensivo com 8 aulas ou com 80 aulas: tudo depende da competência do Professor na escolha de uma escala condizente com os conhecimentos prévios doa alunos.
  16. Da multiplicidade de disciplinas insuficientemente articuladas emerge a necessidade de caracterização dos elementos do par disciplinas/competências: é importante que se reconheça, no entanto, que não existem currículos estritamente fundados na ideia de competências, sem a determinação do desenvolvimento das competências, nem vice-versa.
  17. Dois exemplos especialmente interessantes para se refletir sobre tais questões são o do ENEM (1998) e o do Conselho Nacional de Engenharia (2021).
  18. A BNCC expressa um desequilíbrio notável entre a análise e síntese no tratamento de tal questão: a marca mais visível no texto da BNCC é uma renitente incapacidade de síntese.
  19. Uma semente para iniciar uma discussão como a anteriormente referida, em busca da restauração da capacidade de síntese, é a compreensão efetiva de que currículos não são conjuntos, mas sim elencos de disciplinas, cada uma delas representando um papel específico.
  20. Um tema especialmente importante na construção dos currículos é a formulação de uma ideia de avaliação em sintonia com a multidimensionalidade das pessoas, o que conduz a uma necessária construção de um repertório de instrumentos de Avaliação: um instrumento só não faz verão…

 

 

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  1. Currículos e Ideias Fundamentais: simbiose Disciplinas/Competências, Projetos/Trajetos

 

ENSAIO

  1. A primeira grande preocupação na formulação de Currículos é resistir à tentação de incluir tudo o que parece relevante, buscando manter o foco nas ideias fundamentais dos conteúdos a serem ensinados.

(As histórias de Sartre e de Borges; a imagem de Nicolau de Cusa)

 

  1. Em qualquer conteúdo, é possível discernir o que é fundamento do que é complemento, ou aprofundamento; o fundamental precisa ser conhecido por todos os cidadãos, enquanto o aprofundamento deve resultar de escolhas pessoais dos estudantes.

(A importância do livro de Isaiah Berlin – A força das ideias)

  1. O discernimento entre o que é fundamental e o que não é constitui uma tarefa ingente e urgente, caracterizando-se por meio de um critério nítido e simples, facilmente incorporado ao pensamento ordinário.

(Whitehead –  Os Fins da Educação

 

  1. Um critério para tal discernimento pode ser constituído pelas três exigências seguintes:

– uma ideia fundamental é passível de ser compreendida recorrendo-se apenas à língua natural;

– uma ideia fundamental nunca é isolada, articulando internamente os conteúdos de cada disciplina;

– uma ideia fundamental nunca se restringe apenas a uma disciplina, sempre transbordando as fronteiras disciplinares.

 

  1. No caso da atual reforma do Ensino Médio, o foco das atenções foram os Itinerários formativos, que são os correlatos dos aprofundamentos; os fundamentos não foram, até agora, devidamente tratados tem sintonia com a distinção supra referida.
  2. O pensamento sobre currículos não pode se omitir diante da distinção crucial entre Disciplinas e Competências.

 

  1. É interessante notar que no tempo dos currículos baseados nos “3 Rs” (Ler, Escrever, Contar), as ideias de Disciplina e de Competências fundiam-se simbioticamente.

 

  1. Nos tempos atuais, um elenco de Competências estruturantes da formação em todas as áreas é a tríade Expressão/Compreensão, Argumentação/Decisão, Contextualização/Extrapolação.

 

  1. Também é pertinente e interessante a compreensão das relações entre Competências e Habilidades: uma Competência é uma capacidade de mobilização de conteúdos para a realização do que se projeta, enquanto uma Habilidade é uma forma de manifestação de Competência.

 

  1. Um exemplo: um motorista competente é revela sua capacidade por meio de habilidades de que dispõe; outro exemplo: a compreensão de fenômenos é uma competência que se revela por meio da compreensão de fenômenos específicos, como compreender um gráfico, ou compreender as transformações de energia, ou a importância da preservação da água, ou…

 

  1. Na construção de Currículos, é fundamental a busca de uma sintonia entre projetos políticos e pedagógicos, entre projetos pessoais e coletivos.

 

  1. Uma questão absolutamente fundamental é a compreensão de que alunos naturalmente interessados nos conteúdos disciplinares são raros: é preciso alimentá-los continuamente com a criação de CENTROS DE Interesse…

 

 

 

 

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  • Currículos: Os Tempos e os Espaços

 numa Educação Integral

 

ENSAIO

  1. Uma Educação Integral refere-se primordialmente a uma oposição construtiva entre as ideias de fragmentação e de integração, e apenas secundariamente a uma escola em tempo integral.
  2. A busca de uma integração dos conteúdos relaciona-se diretamente com as tensões entre razão e sentimento; entre as ações da família, da escola e da comunidade; e entre a formação pessoal e a preparação para o mundo do trabalho.
  3. Uma escola integral não pode se realizar sem uma reorganização dos espaços e dos tempos das escolas.
  4. A aula é o espaço nobre da escola e sua importância não pode ser subestimada, mas uma escola não pode se resumir a um cardápio de aulas.
  5. De modo geral, os currículos propõem um número de aulas muito maior do que o necessário: é preciso considerar tal fato.
  6. A escola precisa de espaços/ tempos maiores e menores do que os de uma aula. Um espaço/tempo maior do que o de uma aula é, por exemplo, o de uma excursão, de uma viagem, de um trabalho com projetos; um espaço/tempo menor do que uma aula é, por exemplo, o de orientação, de uma tutoria, de uma conversa pessoal.
  7. Ao pensar o espaço/empo da escola, é fundamental considerar atividades a serem partilhadas com a família, ou com a comunidade. Um correlato à histórica Pedagogia da Alternância.

 

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  1. Currículos: A Educação e a tríplice responsabilidade Escola/Família/Sociedade

ENSAIO

  1. Para a consideração de uma integração entre a Família, a Escola e a Sociedade, é fundamental considerar a reorganização dos espaços e dos tempos da Escola, revigorando-se uma espécie de Pedagogia da Alternância.
  2. Os pais são responsáveis pela educação de seus filhos, mas se trata de uma corresponsabilidade, com a participação efetiva da escola e da comunidade, além de uma crescente consciência dos alunos nessa empreitada.
  3. A primeira ação efetiva de corresponsabilização dos atores envolvidos na educação realiza-se na própria escolha da escola por parte da família; uma espécie de sintonia entre os projetos familiares e os da escola é necessária para uma partilha de responsabilidades.
  4. A responsabilidade é a face complementar da ideia de autoridade: uma partilha de responsabilidades somente se realiza quando está associada a uma correspondente partilha de autoridade.
  5. Em sentido humano, toda autoridade em limites: uma desconsideração de tais limites conduz inexoravelmente ao sempre indesejável autoritarismo.

 

 

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  1. Currículos no Ocidente e no Oriente:

         Uma aproximação por meio de Da Vinci                                                               

                        ENSAIO

  1. Uma compreensão mais nítida das diferenças e da complementaridade entre as epistemologias ocidentais e orientais passa pelas diferenças entre as tríades Ler, Escrever e Contar e a perspectiva da tríade Vinciana do VER, IMAGINAR e DESENHAR.
  2. A importância do olhar nos processos cognitivos é especialmente considerada em autores como Machado de Assis, Alfredo Bosi, Haroldo de Campos, Chang Tung Sun, entre outros filósofos chineses.
  3. As diferentes estruturas das linguagens ocidentais (alfabéticas) e orientais (ideográficas) põe em destaque a força das imagens no pensamento oriental.
  4. É impressionante, no entanto, a relevância da sintonia radical entre a força das imagens e a das teorias: teoria em grego quer dizer visão, uma visão que leva à compreensão.
  5. Não parece ser ocasional, portanto, o fato de que a tríade Ler, Imaginar e Desenhar é muito mais decisiva na compreensão do pensamento oriental do que as perspectivas aristotélicas  que fundam as línguagens ocidentais.

 

 

 

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