Notas sobre a ideia de CURRÍCULO
SUMÁRIO
- Currículos na Cultura Ocidental: em busca de uma Retrotopia
- Currículos e Ideias Fundamentais: simbiose Disciplinas/Competências, Projetos/Trajetos
- Currículos: Os Tempos e os Espaços numa
Educação Integral
- Currículos: A Educação e a tríplice responsabilidade Escola/Família/Sociedade
- Currículos no Ocidente e no Oriente:
Uma aproximação por meio de Da Vinci
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(O pré-texto a seguir, na forma de bullets, pode servir de base para a elaboração de um texto efetivo que expresse o pensamento do Grupo sobre a ideia de Currículo.)
- Currículos na Cultura Ocidental:
em busca de uma Retrotopia.
ENSAIO
- Na construção do Conhecimento, o ponto de partida é a realidade, mas é necessário recorrer a sistemas de representação para se ter acesso a ela.
- Currículos são como mapas que representam um elenco de vias de acesso ao Conhecimento; as Disciplinas são as vias de acesso.
- No senso comum, os “Três Rs” (LeR, EscreveR e ContaR) /constituíram uma visão sintética de tal representação.
- Na Cultura Ocidental, o primeiro currículo de que se tem registro é o Trivium, constituído pelas Disciplinas Gramática, Lógica e Retórica. Era claro, então, que essas três vias de acesso ao conhecimento não eram fins em si mesmas, mas sim meios de formação pessoal.
- Após o Trivium, havia mais quatro Disciplinas, que constituíam o Quadrivium. Tratavam de Números e de Formas: a Aritmética era o estudo dos Números em repouso, a Música era associada aos Números em movimento; a Geometria era o estudo das Formas em repouso, enquanto a Astronomia tratava das Formas em movimento.
- Apesar da enorme relevância do modo de pensar a construção do conhecimento constituído por pensadores como Leonardo Da Vinci, que, em vez dos 3Rs ocidentais, optava pela tríade Ver, Imaginar, Desenhar, de modo geral, até o final da Idade Média, as vias de acesso ao conhecimento eram as sete disciplinas do Trivium e do Quadrivium.
- Com o advento da Ciência Moderna, ocorreu paulatinamente uma proliferação de disciplinas, presentes nos currículos da escola básica atual: Física, Matemática, História, Geografia, Biologia, Química, Linguagens, Artes, Educação Física, entre outras…
- Um efeito danoso de tal fragmentação disciplinar é o fato de que ela dissolve os significados, situando-se na origem da perda do interesse nos conteúdos disciplinares por parte dos alunos.
- Aí se inserem, frequentemente, iniciativas para vacinar contra a fragmentação, no caso das séries iniciais da Educação Básica, ou remediar seus danos, quando o mal já se instalou, como, por exemplo, no currículo do Ensino Médio.
- Os discursos da Multidisciplinaridade, da Interdisciplinaridade, da transdisciplinaridade e da Intradisciplinaridade tentam, há décadas, promover a aproximação entre as diversas disciplinas, sobretudo a partir da criação de Centros de Interesse, enraizados nos contextos reais.
- Um recurso especialmente relevante para uma aproximação e uma integração disciplinar é a organização dos currículos por áreas do conhecimento que congregam disciplinas com objetos afins. São diversas as possíveis escolhas disciplinares, na composição das áreas.
- Outra vertente de iniciativas diz respeito à restauração do discernimento entre as Ideias Fundamentais dos Conteúdos Disciplinares estudados, que são necessárias para todos os alunos, e os conteúdos que constituem Aprofundamentos, disponíveis seletivamente para diferentes grupos de alunos.
- De modo geral, as Disciplinas viabilizam a construção do conhecimento; literal e figuradamente, sem disciplina não se chega ao conhecimento. E os Currículos são como Mapas que constituem uma cartografia simbólica dos conteúdos, ou das vias de acesso ao conhecimento.
- Os mapeamentos dos conteúdos disciplinares dependem essencialmente da capacidade escolher escalas adequadas para o tratamento dos conteúdos disciplinares; errar para menos é subestimar os alunos, ao mesmo tempo que um excesso de pormenores pode inviabilizar o ensino.
- Sem tergiversar, qualquer conteúdo pode ser apresentado aos alunos de modo compreensivo com 8 aulas ou com 80 aulas: tudo depende da competência do Professor na escolha de uma escala condizente com os conhecimentos prévios doa alunos.
- Da multiplicidade de disciplinas insuficientemente articuladas emerge a necessidade de caracterização dos elementos do par disciplinas/competências: é importante que se reconheça, no entanto, que não existem currículos estritamente fundados na ideia de competências, sem a determinação do desenvolvimento das competências, nem vice-versa.
- Dois exemplos especialmente interessantes para se refletir sobre tais questões são o do ENEM (1998) e o do Conselho Nacional de Engenharia (2021).
- A BNCC expressa um desequilíbrio notável entre a análise e síntese no tratamento de tal questão: a marca mais visível no texto da BNCC é uma renitente incapacidade de síntese.
- Uma semente para iniciar uma discussão como a anteriormente referida, em busca da restauração da capacidade de síntese, é a compreensão efetiva de que currículos não são conjuntos, mas sim elencos de disciplinas, cada uma delas representando um papel específico.
- Um tema especialmente importante na construção dos currículos é a formulação de uma ideia de avaliação em sintonia com a multidimensionalidade das pessoas, o que conduz a uma necessária construção de um repertório de instrumentos de Avaliação: um instrumento só não faz verão…
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- Currículos e Ideias Fundamentais: simbiose Disciplinas/Competências, Projetos/Trajetos
ENSAIO
- A primeira grande preocupação na formulação de Currículos é resistir à tentação de incluir tudo o que parece relevante, buscando manter o foco nas ideias fundamentais dos conteúdos a serem ensinados.
(As histórias de Sartre e de Borges; a imagem de Nicolau de Cusa)
- Em qualquer conteúdo, é possível discernir o que é fundamento do que é complemento, ou aprofundamento; o fundamental precisa ser conhecido por todos os cidadãos, enquanto o aprofundamento deve resultar de escolhas pessoais dos estudantes.
(A importância do livro de Isaiah Berlin – A força das ideias)
- O discernimento entre o que é fundamental e o que não é constitui uma tarefa ingente e urgente, caracterizando-se por meio de um critério nítido e simples, facilmente incorporado ao pensamento ordinário.
(Whitehead – Os Fins da Educação
- Um critério para tal discernimento pode ser constituído pelas três exigências seguintes:
– uma ideia fundamental é passível de ser compreendida recorrendo-se apenas à língua natural;
– uma ideia fundamental nunca é isolada, articulando internamente os conteúdos de cada disciplina;
– uma ideia fundamental nunca se restringe apenas a uma disciplina, sempre transbordando as fronteiras disciplinares.
- No caso da atual reforma do Ensino Médio, o foco das atenções foram os Itinerários formativos, que são os correlatos dos aprofundamentos; os fundamentos não foram, até agora, devidamente tratados tem sintonia com a distinção supra referida.
- O pensamento sobre currículos não pode se omitir diante da distinção crucial entre Disciplinas e Competências.
- É interessante notar que no tempo dos currículos baseados nos “3 Rs” (Ler, Escrever, Contar), as ideias de Disciplina e de Competências fundiam-se simbioticamente.
- Nos tempos atuais, um elenco de Competências estruturantes da formação em todas as áreas é a tríade Expressão/Compreensão, Argumentação/Decisão, Contextualização/Extrapolação.
- Também é pertinente e interessante a compreensão das relações entre Competências e Habilidades: uma Competência é uma capacidade de mobilização de conteúdos para a realização do que se projeta, enquanto uma Habilidade é uma forma de manifestação de Competência.
- Um exemplo: um motorista competente é revela sua capacidade por meio de habilidades de que dispõe; outro exemplo: a compreensão de fenômenos é uma competência que se revela por meio da compreensão de fenômenos específicos, como compreender um gráfico, ou compreender as transformações de energia, ou a importância da preservação da água, ou…
- Na construção de Currículos, é fundamental a busca de uma sintonia entre projetos políticos e pedagógicos, entre projetos pessoais e coletivos.
- Uma questão absolutamente fundamental é a compreensão de que alunos naturalmente interessados nos conteúdos disciplinares são raros: é preciso alimentá-los continuamente com a criação de CENTROS DE Interesse…
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- Currículos: Os Tempos e os Espaços
numa Educação Integral
ENSAIO
- Uma Educação Integral refere-se primordialmente a uma oposição construtiva entre as ideias de fragmentação e de integração, e apenas secundariamente a uma escola em tempo integral.
- A busca de uma integração dos conteúdos relaciona-se diretamente com as tensões entre razão e sentimento; entre as ações da família, da escola e da comunidade; e entre a formação pessoal e a preparação para o mundo do trabalho.
- Uma escola integral não pode se realizar sem uma reorganização dos espaços e dos tempos das escolas.
- A aula é o espaço nobre da escola e sua importância não pode ser subestimada, mas uma escola não pode se resumir a um cardápio de aulas.
- De modo geral, os currículos propõem um número de aulas muito maior do que o necessário: é preciso considerar tal fato.
- A escola precisa de espaços/ tempos maiores e menores do que os de uma aula. Um espaço/tempo maior do que o de uma aula é, por exemplo, o de uma excursão, de uma viagem, de um trabalho com projetos; um espaço/tempo menor do que uma aula é, por exemplo, o de orientação, de uma tutoria, de uma conversa pessoal.
- Ao pensar o espaço/empo da escola, é fundamental considerar atividades a serem partilhadas com a família, ou com a comunidade. Um correlato à histórica Pedagogia da Alternância.
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- Currículos: A Educação e a tríplice responsabilidade Escola/Família/Sociedade
ENSAIO
- Para a consideração de uma integração entre a Família, a Escola e a Sociedade, é fundamental considerar a reorganização dos espaços e dos tempos da Escola, revigorando-se uma espécie de Pedagogia da Alternância.
- Os pais são responsáveis pela educação de seus filhos, mas se trata de uma corresponsabilidade, com a participação efetiva da escola e da comunidade, além de uma crescente consciência dos alunos nessa empreitada.
- A primeira ação efetiva de corresponsabilização dos atores envolvidos na educação realiza-se na própria escolha da escola por parte da família; uma espécie de sintonia entre os projetos familiares e os da escola é necessária para uma partilha de responsabilidades.
- A responsabilidade é a face complementar da ideia de autoridade: uma partilha de responsabilidades somente se realiza quando está associada a uma correspondente partilha de autoridade.
- Em sentido humano, toda autoridade em limites: uma desconsideração de tais limites conduz inexoravelmente ao sempre indesejável autoritarismo.
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- Currículos no Ocidente e no Oriente:
Uma aproximação por meio de Da Vinci
ENSAIO
- Uma compreensão mais nítida das diferenças e da complementaridade entre as epistemologias ocidentais e orientais passa pelas diferenças entre as tríades Ler, Escrever e Contar e a perspectiva da tríade Vinciana do VER, IMAGINAR e DESENHAR.
- A importância do olhar nos processos cognitivos é especialmente considerada em autores como Machado de Assis, Alfredo Bosi, Haroldo de Campos, Chang Tung Sun, entre outros filósofos chineses.
- As diferentes estruturas das linguagens ocidentais (alfabéticas) e orientais (ideográficas) põe em destaque a força das imagens no pensamento oriental.
- É impressionante, no entanto, a relevância da sintonia radical entre a força das imagens e a das teorias: teoria em grego quer dizer visão, uma visão que leva à compreensão.
- Não parece ser ocasional, portanto, o fato de que a tríade Ler, Imaginar e Desenhar é muito mais decisiva na compreensão do pensamento oriental do que as perspectivas aristotélicas que fundam as línguagens ocidentais.
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