A máxima de J. L. Borges é definitiva: Só podemos dar o amor, do qual todas as outras coisas são símbolos. Os laços que nos constituem como pessoas pressupõem o trio dar/receber/retribuir. É necessário um Tu, um outro a quem nos dedicamos. O amor ao próximo, como a si mesmo, traduz a imanência dessa articulação fundamental entre o Eu e o Tu. Amar o mundo é a condição de possibilidade de uma vida ativa, diz Hannah Arendt. A construção de uma identidade pessoal conduz à busca de um centro de gravidade em nossa relação com o mundo, um Tu pessoal que preenche os vãos de nossas vidas, do DNA aos mais caros projetos. Não existe vida em sentido pleno sem tal centro, que costumamos chamar de Amor. Amar é encontrar o que nos alenta, é alimentar uma comunhão total e vital. É entregar-se ao que nos completa: uma pessoa, uma causa, uma tarefa, um princípio. Como uma semente que ninguém plantou, num olhar que ninguém previu, de repente, o Amor surge: defini-lo é cortar o ramo de onde a flor pende.
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