Em matéria publicada em jornal de grande circulação (FSP 12/4/2017), o alerta foi dado: no ano em curso já foram registrados ao menos seis casos de tentativas de suicídio entre alunos do quarto ano de um dos mais prestigiosos cursos de Medicina do país. Profissionais de Psiquiatria diagnosticam que “esgotamentos, ansiedade, depressão, internações… parecem crescentes em frequência e intensidade, e soam como um pedido de ajuda.” Como entender tal fato? Eis o desafio que se põe para educadores de todas as áreas do conhecimento. Numa reação imediata, o excesso de exigências e rigores de algumas das disciplinas são situados no foco dos problemas, mas isso não parece fazer o menor sentido. Afinal, os alunos da Medicina parecem sobreviventes vacinados dos terríveis exames vestibulares, com alto nível de exigências, e o que é pior, com desafios desprovidos de significado no que se refere à profissão que, supostamente, escolheram. Tal escolha, no entanto, parece situar-se no olho do furacão das frustrações e dos suicídios. A sociedade do espetáculo torna a profissão do médico especialmente sedutora, cheia de glamour, atraindo uma multidão de vocações duvidosas. Quando se vislumbra, quase ao final do curso, a proletarização do médico como profissional, somente comparável com a dos profissionais da Educação, somente as vocações verdadeiras parecem efetivamente sobreviver. Grande parte dos seduzidos pela imagem espetacular do médico fraqueja, e a consciência do alto custo que já foi pago em termos de dedicação e de sacrifícios pessoais pode levar alguns ao desespero. Para enfrentar tal fato, o apoio psicológico aos quase-médicos certamente não fará mal, mas a medida realmente fundamental é melhorar a formação pessoal dos alunos, no ensino médio, para que encontrem sua real vocação. Enquanto isso não vem, a sociedade do espetáculo tira proveito das tendências suicidas de maneira aética e oportunista, criando uma série para a TV sobre tal temática: “13 Reasons Why”. Não deixem de perder.
******SP 12-04-2017
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