Na vida, a ideia de igualdade é fundamentalmente vazia: rigorosamente, uma coisa somente é igual a si mesma. Em seu uso ordinário,  quando dizemos que A é igual a B queremos dizer que A e B são iguais naquilo que importa, naquilo que vale, ou seja, A e B se equivalem, ou são equivalentes. Naturalmente, o ponto decisivo é a explicitação daquilo que vale, ou seja, é o estabelecimento de uma relação de equivalência. Em uma democracia, todos somos iguais como cidadãos, mas somos essencialmente diferentes como pessoas. Diante das normas, das leis necessárias para o convívio social, somos todos iguais; o Direito nos torna equivalentes. A ideia de equivalência é um instrumento poderoso para a organização de conjuntos bagunçados. Quando observamos o conjunto de automóveis circulando neste instante em nossa cidade, sem um critério, sem uma relação de equivalência o que vemos é uma bagunça imensa. Se fixamos a atenção na cor de cada automóvel é como se disséssemos que dois automóveis de mesma cor são equivalentes; organizamos virtualmente, então, o conjunto inicial e passamos a ver automóveis pretos, brancos, pratas, vermelhos etc. Escolhendo um representante qualquer de cada tipo, constituímos um mostruário da totalidade do conjunto dos automóveis no que diz respeito à cor. Outro critério inicial, outra relação de equivalência determinaria outro mostruário. Procedemos de modo análogo com quase tudo com que lidamos: partindo de um conjunto genérico de seres ou objetos, escolhemos relações de equivalência, organizamos as classes de equivalência, e simplificamos nossa vida compomos um mostruário do conjunto inicial. A igualdade em si tem pouca serventia no dia a dia: não vivemos, no entanto, sem classificações, orientadas por múltiplos pontos de vista. E as classificações podem conduzir – e em geral conduzem – a organizações, a ordenações que são cruciais para a construção de uma visão, de uma teoria para dar significado às ações que realizamos.

*******29-03-2017

No comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *