A ideia de design ganhou o mundo. Não buscamos mais um produto apenas em função da racionalidade de seu projeto: queremos também a sutileza, o transbordamento da criatividade em seu design. Uma cadeira não se resume a um artefato para nos sentarmos: ela precisa reunir elementos estéticos que se assemelham aos traços que caracterizam a personalidade de um ser humano. Os mais sofisticados objetos técnicos não podem dispensar completamente as preocupações artísticas, limitando-se à indispensável funcionalidade do uso, sob pena de parecerem caricaturas. A engenharia que nos desculpe, mas uma pitada de arte é fundamental. Nas ações mais ordinárias, a ideia de design registra sua presença. Um deslocamento significativo de tal ideia está a ocorrer do universo dos produtos para o terreno dos processos. Já não causa qualquer estranhamento a expressão “design de ações”, design de procedimentos. No que tange às relações sociais, no terreno dos valores, ideias como as de liberdade e livre-arbítrio, igualdade e diferença, responsabilidade e autoridade precisam estar suficientemente enraizadas nas práticas sociais. Nesse terreno, a noção de integridade ocupa um lugar de destaque, correspondendo a uma racionalidade necessária no terreno dos valores, no exercício da justiça, na vivência da Ética. As normas que regulam as relações sociais precisam de consistência e uma absoluta sintonia entre o discurso e as ações – o que caracteriza a ideia de integridade. Tal sintonia é condição de possibilidade da vigência de regimes democráticos. Os sistemas de normas não podem resultar do mero acúmulo de regras ad hoc, que não derivem da racionalidade de um projeto articulador de interesses pessoais e coletivos. Mas assim como na produção material não basta o projeto, na vivência dos valores é preciso a sutileza do design. Não basta a integridade nua e crua – que pode ser cruel – é preciso a sutileza da civilidade. Gentileza, solidariedade, generosidade, misericórdia são valores sutis que caracterizam a civilidade. Deixar de vivenciá-los não é crime, mas a convivência social resulta muito mais difícil sem eles. A civilidade está para a integridade assim como o design está para o projeto.
*********SP 29-12-2016
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