Fui aluno da EsPCEx nos anos 1964-1966. Devo a ela minha formação básica, que recebi dadivosamente, e pela qual serei eternamente grato. Ao final dos três anos de estudos, com a consciência possível nas circunstâncias da idade, decidi que queria ser professor e não prossegui na carreira militar. Graduei-me em Matemática e desde 1972 tornei-me professor da Universidade de São Paulo, inicialmente no Instituto de Matemática e Estatística e, a partir de 1984, na Faculdade de Educação, onde trabalho com formação de professores.

Ao sair da Escola e buscar a Universidade, a emoção foi forte, como foi a saída da casa paterna, mas sempre tive a certeza de que os caminhos que seguiria não me afastariam dos ideais perenes que aprendera a cultivar, ainda que em outras trincheiras. As lições que aprendi nos anos de permanência na Escola me marcaram para sempre como profissional e como pessoa. Dez de tais lições, entre tantas, pela influência que tiveram em minha vida, merecem especial destaque.

  1. Na EsPCEx aprendi o sentido maior de se amar a Pátria e servir ao público, de se viver em busca de algo maior do que a mera recompensa financeira; que há múltiplos caminhos para realizar tais ideais; que os governos ou as empresas passam por nós, mas um sentimento maior de pertinência a uma nação, de inserção em uma Cultura, de partilha de projetos e de valores fundamentais nos une a todos, independentemente das vias que utilizamos para realizar nossas aspirações.
  2. Na EsPCEx aprendi a vivenciar diariamente a ideia de fraternidade, de companheirismo em seu sentido mais profundo – de partilha do pão – , a importância da integração plena entre parceiros de diferentes origens, raças ou credos, o cultivo de amizades sinceras, lastreadas por valores comuns, grande parte das quais permanece viva até hoje; e, sobretudo, o reconhecimento de que o fundamento de toda fraternidade efetiva é o respeito mútuo, pautado por normas legítimas.
  3. Na EsPCEx aprendi que a tradição e a conservação não são defeitos, que a mudança e a transformação não são sempre um bem, que o novo não é um valor porque é novo, que antigo não é sinônimo de ultrapassado, que comemorações são muito importantes para a explicitação e a consolidação de valores, que legalidade não é sempre legitimidade, que o equilíbrio não é sinônimo de conformismo.
  4. Na EsPCEx aprendi desde muito cedo a importância da disciplina consciente, o valor da palavra empenhada, da permanente busca de sintonia entre o discurso e as ações e, sobretudo, que a integridade pessoal é condição de possibilidade da construção de relações pessoais consistentes e duradouras, em todos os níveis da vida em sociedade.
  5. Na EsPCEx aprendi que a diferença é um valor complementar ao da igualdade, que o mérito regulado por normas explícitas e transparentes é importante na estruturação das ações humanas,que hierarquia não é sinônimo de desigualdade.
  6. Na EsPCEx aprendi que autoridade não é sinônimo de autoritarismo, que o exercício de uma autoridade sempre envolve a assunção de responsabilidades, que “autoridade responsável” é um pleonasmo vicioso, que toda autoridade tem limites, e que somente quando se exerce uma autoridade pode-se vivenciar o verdadeiro sentido da ideia de tolerância.
  7. Na EsPCEx aprendi que ser tolerante não significa tolerar tudo, que considerar algo intolerável não é ser intolerante; que, mesmo para a pessoa mais tolerante do mundo, existe o intolerável; que é intolerável, por exemplo, tudo aquilo que violenta a integridade de uma pessoa.
  8. Na EsPCEx aprendi que se submeter a regras ou regulamentos pode ser um exercício de cidadania, que normas legitimamente constituídas nos coagem a todos e são condição de possibilidade da vida em sociedade, que obedecer a regras feitas por outros – a heteronomia – situa-se no caminho da construção da autonomia.
  9. Na EsPCEx aprendi que a eclosão da violência é a falência da palavra, mas que existem agressões inomináveis que se dão por meio da palavra, que a violência física, sempre indesejável, nem sempre é evitável, e que a força é o que resta, quando a autoridade e o poder legitimamente constituídos se omitem.
  10. Na EsPCEx aprendi que garantir os direitos do cidadão é o dever do Estado, mas é direito do Estado exigir que cada cidadão cumpra seu dever, que existe uma assimetria entre os direitos e os deveres, e que, mesmo quando meus direitos não estejam sendo respeitados, não me é lícito descumprir os meus deveres.

Eis aí uma pequena amostra do que aprendi na EsPCEx, da dívida que tenho para com ela no que se refere a minha formação pessoal, mas sobretudo, eis aí a origem da minha certeza já referida, no início de tal depoimento: por razões pessoais saí da Escola, mas a Escola nunca saiu de mim.

 

***SP15102015

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