No senso comum, buscamos a clareza e o controle da incerteza. No mais das vezes, no entanto, alimentamo-nos da ambiguidade e vivemos em zonas nebulosas.
Descartes, um cânone da filosofia ocidental, recomenda explicitamente que não devemos aceitar senão juízos claros e distintos, solidários com as premissas da lógica formal.
O jovem Wittgenstein, em sua rebeldia, põe em evidência os limites da linguagem e resigna-se diante do inefável: “o que não se pode falar, deve-se calar”.
Mas a ambiguidade e a incerteza persistem, mesmo no âmbito da ciência elaborada. Se Newton tivesse ouvido o conselho de Descartes, não ousando ir além de suas ideias claras e distintas, o Cálculo Diferencial não teria sido criado.
Nas coisas da vida, talvez Clarice Lispector tenha mais a nos dizer do que a ciência e a filosofia. Em Aprendendo a viver, ela escreve: “Se uma pessoa fizesse apenas o que entende, jamais avançaria um passo”.
O fato é que não se pode viver seguro de tudo e clareza demais também pode cegar.
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