Penso, logo, existo, diz a máxima cartesiana. Descartes não ignora “as paixões da alma” – título de um de seus livros – mas trata de administrar as mesmas de modo que não minem nem determinem os caminhos da razão.
Pascal, por sua vez, nos lembra que o coração tem razões que a própria razão desconhece. O tempo e suas luzes parecem reconhecer a impossibilidade de uma separação nítida entre razão e emoção. A propaganda e o discurso político nos lembram de tal imbricação a cada momento.
Diferentes culturas expressam variados níveis de concordância com uma ou outra de tais perspectivas. Os americanos já nascem cartesianos, mesmo que nunca venham a ler uma linha de Descartes, diz Allan Bloom em O declínio da cultura ocidental; já os franceses, segundo o mesmo autor, nascem, ou cedo se tornam, cartesianos ou pascalinos.
No Brasil, frequentemente, descartamos os dois filósofos e fazemos de Macunaíma, o herói sem caráter, nosso oráculo predileto. Talvez seja engraçado mas, no fundo, é bem triste.
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