Um autêntico regime democrático não pode funcionar como uma família, nem uma verdadeira família se estrutura como uma democracia. Um governo não pode apadrinhar amigos, privilegiando-os com seu carinho. Chega a ser grotesco quando o transitório detentor do poder civil almeja a condição de pai (ou mãe) do povo. Na família, não elegemos nossos pais, nem o respeito a eles decorre de alguma “regra de maioria”.
As autoridades do pai e do governante são de natureza diversa. Uma delas decorre da responsabilidade de nos pôr no mundo, de nos criar; a outra, da responsabilidade pela criação de ordem no mundo, pela ordenação dos espaços cívicos. Os âmbitos são distintos: não cabe ao governante nos orientar sobre como devemos escovar os dentes, nem é permitido aos pais privarem seus filhos de regras básicas do convívio social.
A noção de “pai cívico” é tão perniciosa para a democracia quanto o é, para a vida em sociedade, a de uma família rigorosamente “democrática”, seja lá o que isso signifique.
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