A frase Deus está no particular (Warburg, 1866-1929) influenciou decisivamente o trabalho de historiadores importantes como Carlo Ginzburg. Reunida ao aforismo de Flaubert – Le bon Dieu est dans le détail – serve de mote para muitos perfeccionistas, que extrapolam os limites da pertinente precisão.
Em vez de detalhe, que entrou clandestinamente em nossa língua por um descuido da alfândega francesa, consideremos uma palavra correlata em nosso léxico: pormenor. Não é sedutora, nem para religiosos, nem para leigos, a ideia de que Deus está no pormenor. Nas investigações históricas de Ginzburg, o conceito decisivo é o de indício. Um indício não é apenas um pormenor, mas uma sutileza que revela algo maior. Um classificador de obra de artes baseia-se em indícios. Sherlock Holmes baseava-se em indícios. A Psicanálise opera por meio do reconhecimento de indícios.
A ideia de que a manifestação da divindade dá-se por meio de indícios parece muito mais digna e instigante, para gregos e troianos.
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