Há uma maneira de pensar a língua em que cada palavra teria um sentido literal e outros figurados. Segundo outra, igualmente consistente, tal sentido literal inexistiria: todo uso é mais ou menos figurado. Nessa trincheira, encontram-se Wittgenstein, para quem o significado nasce do uso, e Fernando Pessoa, para quem “a essência do uso é o abuso”.
Nos dois casos, as metáforas podem ser recursos especialmente fecundos. Em grego, metáfora quer dizer transporte. Na construção de significados, um enunciado metafórico transfere relações constitutivas do conceito conhecido para o que está em formação.
Para o lingüista Max Black, “talvez todo conhecimento tenha que se iniciar com uma metáfora, até chegar a uma álgebra”. Em Nietzsche, lemos que “o conceito é o resíduo de uma metáfora”. Useiro e vezeiro, Borges cunhou: “metáforas são simpatias secretas entre conceitos”.
A existência de um sentido literal de um texto é uma pretensão ingênua e empobrecedora. A Bíblia em sentido literal é caricata.
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