São demais os perigos desta vida, dizia o poeta. Hoje, é comum fazer-se seguro contra perdas em quase todos os domínios: automóveis, residências, partes do corpo, intempéries etc. O seguro afastaria o perigo da perda. Afastaria? De qual perda?
Em “As cidades invisíveis”, Ítalo Calvino descreve Otávia, uma cidade suspensa sobre um abismo. Os habitantes andam sobre uma fina teia, como a das aranhas, que interliga cumes de montanhas, esgueirando-se por entre nuvens, entrevendo o fundo do abismo. Para Calvino, a vida é menos incerta em Otávia do que em outras cidades, na medida em que os habitantes sabem que a fina rede não resistirá mais do que se pode esperar dela.
Não existe vida sem perigo, sem risco. “Perigo” e “experimentação” são palavras com a mesma origem latina. É vã a tentativa de eliminar todos os riscos: juntamente com eles, a vida se esvairia, condenando-se à total ausência de experimentação.
O que nos torna mais seguros não é a inexistência do risco, é a consciência do mesmo.
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